21/09/2022

Cenário desafiador não deve barrar potencial de inovação


Em meio ao processo acelerado de inovação que requer investimentos pesados em tecnologia, empresas agora se deparam com um ambiente desafiador, marcado por juros mais altos, risco de recessão global e conflitos geopolíticos. Para Camila Farani, uma das maiores investidoras de startups no Brasil, o momento atual pede um “olhar mais cauteloso”.

“Os fundos de venture capital não deixaram de ter caixa. Só estão com um olhar mais criterioso”, diz Camila, presidente da G2 Capital, que participou do painel “Desafio Econômico” no MKBR22.

A empresária lembra que o ecossistema de venture capital de tecnologia vem de cerca de cinco anos “muito frutíferos”, com US$ 621 bilhões investidos globalmente só em 2021. Ela prevê uma queda de 19% desse volume para este ano.

Essa cautela antes de investir em novos negócios se explica não só pelo potencial de geração de caixa, mas também pelo aumento de produtividade das equipes, considerando os ajustes realizados após o forte período de expansão.

Camila conta que agora seu foco são companhias que já são geradoras de caixa, acima do chamado “break even”, ou ponto de equilíbrio.

Inovar na crise

A pandemia acelerou o processo de inovação em diversos setores, com o surgimento de muitas startups que identificaram novos nichos.

“Na crise, as escaras, as dores estão abertas. Grandes empresas foram criadas em 2008, no momento da bolha norte-americana, muitas em 1929 na Grande Depressão”, destaca a empresária.

Ela cita como exemplo o boom digital no Brasil, com uma infraestrutura logística já complexa, e a consequente expansão das chamadas logitechs. Com a normalização pós-pandemia, o desafio agora é equalizar os negócios e voltar para o mundo físico, explica Camila.

“As crises são cíclicas, têm fim, acompanham os ciclos econômicos”, diz. No entanto, Camila vê um cenário macroeconômico e político desafiador, “se estendendo um pouco mais do que a gente gostaria”.

Mas, quando se trata de inovação, são nos momentos de incerteza que os grandes empreendedores dizem: “Posso me reinventar”, ressalta Camila.

Escolha dos investimentos

Para decidir investir ou não em uma empresa, Camila diz que sua tese é baseada na tecnologia do produto, na "defensibilidade" do negócio frente à concorrência e outros fatores, potencial da equipe e tamanho do mercado onde a empresa atua.

Mas a parte intuitiva também conta muito. “Entra mais feeling do que eu gostaria. Muitas vezes já estou apaixonada pelo modelo de negócio”, diz. “O feeling nada mais é do que a soma de experiências.”

A empresária chama a atenção para um ponto importante na escolha: “As empresas precisam saber resistir às crises”, tanto do aspecto emocional quanto técnico.

Nesse processo, impulsionar a inovação entre mulheres também é um desafio para Camila, fundadora da Ela Vence, plataforma de empoderamento de empreendedorismo feminino. “Tem uma coisa que é muito importante entre as mulheres, que é não só o poder de conexão, mas o poder de se ajudarem, de fazerem acontecer.”

Sobre o cenário para as empresas daqui a cinco anos, Camila espera “empresas muito mais inteligentes do ponto de vista de dados, ESG, de como utilizam dados a seu favor e na gestão de talentos baseada em suas habilidades humanas”.