06/12/2018
O custo do hedge
Ao tratar do tema de gestão de riscos com empresas no Brasil, percebi que muitas delas (com passivos em dólares) por vezes argumentam que não fazem hedge por conta do custo do mesmo no Brasil.
O conceito do custo do hedge dá margem a várias possibilidades de interpretação que passam por custos operacionais, de observância, spread bancário e a própria formação do preço futuro do índice/indexador (dólar futuro, por exemplo). Ainda que cada um destes itens possa contribuir para o custo final, a formação do preço normalmente é o principal fator de influência no custo para contratação do hedge.
Se a taxa de câmbio hoje é de 3,70 reais por dólar, qual o valor justo para comprador e vendedor de dólar que desejam travar uma operação para o prazo de 180 dias? Como não é possível adivinhar qual será o câmbio em 180 dias, vamos avaliar quais seriam os componentes que podem influenciar a previsão da taxa futura.
Certamente, a taxa à vista (spot) é ponto de partida (referência) para a cotação futura. Além dela, deve-se entender que ao se travar um câmbio para uma data futura, devemos levar em conta o custo de oportunidade dos recursos nas diferentes moedas que o vendedor e o comprador possuem (dólares e reais, respectivamente). Assim, para se chegar ao preço futuro do dólar, temos 3 fatores a considerar: a taxa de câmbio à vista, a taxa de juros em reais (Pré) e a taxa de juros em dólares (cupom cambial).
A fórmula abaixo traduz matematicamente esta relação:
Futuro BRL/USD = Spot BRL/USD x Juros BRL
Juros USD
Se essa relação não for mantida, abre-se oportunidade para uma arbitragem, pois o detentor de reais consegue investir seus recursos (de hoje até a data efetiva da entrega dos reais) a uma taxa de juros nominalmente maior que o detentor dos dólares. Isso também explica porque (quase) sempre, o valor do dólar futuro é maior que o dólar à vista. Vale lembrar que este raciocínio é válido para qualquer par de moedas.
Para o importador, depreende-se desta relação de que quanto menor o diferencial de juros entre reais e dólares, menor resulta o valor do dólar futuro (FuturoBRL/USD), e desta forma “mais barata” fica sua operação de hedge. Já para o exportador, a relação é inversa, ou seja, um menor diferencial implica em uma taxa de venda do USD menos atrativa.
A tabela abaixo exemplifica de forma aproximada a evolução destas taxas que compõem o custo do hedge nos últimos meses, tomando como referência uma operação de prazo 6 meses.